quarta-feira, 24 de setembro de 2008

A Saudade

Que palavrinha hermética, soturna, desgarrada. Me tente traduzi-la! Me tente agarrá-la! Tente tê-la mesmo que por um instante. Ela se desvencilha do pensamento e se reifica nos poemas de rimas pobres, na pobreza das músicas sóbrias, na intenção do intelectual bêbado. E lá está ela, andando por entre os papéis, solitária na existência das línguas, e sombria onipresente que na luz do dia, entre as casas velhas, as igrejas velhas, ela lhe aborda, sem respeito, com autoridade de quem detêm a unicidade de significado, que cada amante dá um jeito, dá uma forma, e a menina chora, coitada, sem ter o que se agarrar, sem ter o que maltratar, na beleza dos pesadelos noturnos, em que é cheio de amores, é cheio de cavalos cavalgando para todos os lados, um pesadelo cheio de sonhos, e acorda então sem nada e não sabe se estava acordada ou simplesmente adormeceu em sua fazenda que tem cheiro de mato e acordou entorpecida em sonhos na cidade abstrata onde é surrealista as manhãs cheias de nuvens de caminhões, de cantos de carros, de vias labirintas na fauna cheia de homens, na flora cheia de cimento, e se sente o nada, se senta na escada, com esta palavra na garganta, querendo gritá-la, e não sabe se grita porque tudo aquilo não pode ser verdade, não pode ser realidade, e procura em cada beco o seu amor que correu exilado em suas obrigações, que em sua última memória partiu em uma nave; ou era em uma carruagem?; ou era em uma caminhonete, ou quem sabe um cavalo?; não se sabe, mais ele se foi e deixou a ela apenas uma frase: "Irei morrer desta palavra!" Tão exato e preciso era este homem. Desde que deixara ele começou a morrer pela expressão que lhe encantava, passava os dias caminhando de um lado ao outro, não mais simplesmente vivia, também sentia algo, e era consciente do sentimento, e também se encantava, e todo o tempo a que da expressão não saciava, simplesmente morria, nada que seja extremamente fúnebre ou gótico, ele simplesmente morria, como sempre fez desde que nasceu. Morria porque o tempo passava. Mas qual era a referência do tempo, qual era sua medida? Não era mais os sóis que se punham, a que alguns chamavam de dia, não era mais à alguma referência no espaço, ou talvez a linearidade da vida, ou a ciclidade da natureza... tudo se media no instante do imaginário reencontro com a menina que tivera deixado na cidade... ou era no campo? Não importa mais o lugar, porque ao pensamento não é necessário chão, muito menos árvores ou prédios - quem diria civilização! Então ele morre pela expressão que disse a ela que morreria, não em sua mentalidade suicida, mas na compreensão que o mundo é pequeno demais para a eternidade do colosso que os poetas apelidaram de amor. E não realmente se parece pequeno quando se observa dois amantes? Quando em sua visão se encontram dois amores, a vida se torna pequena e a morte se parece grande demais... o mundo é mínimo. Não cabe um par de amantes, uma família, um Estado e alguns gatos.

Um comentário:

Lari skuld disse...

é realmente um dos textos mais lindos que eu jah li... *-*

Saudade...
o mais triste e bunito tema!