quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

O Alvorecer

O Sol apenas nasce para os pobres e vagabundos, E a pobre vagabunda se espreguiça nos lençois atrapalhados, amassados, multiformes e é indestinguível a mulher e a coberta úmida, a intimidade e o Sol que se desprende atrás do cobertor que cobre não o corpo, não a cama, mas a janela, Tudo são vultos desde a deflagração da existência nos gemidos, ou suspiros, indecifráveis para o poeta contista que então despetrificara as lágrimas de seus olhos sem o conhecimento da musa. O hermético astro nasce sem consentimento da vagabundagem das camas, da pobreza dos ônibus, tendo na libertinagem da existência a razão perdurante do amante, de peito ao afago, de cansaço risonho, a observação à quatro olhos de uma claridade nova, negra, negra amarronzada, enquanto esculpido pelas sombras caminha à quatro pés, O banheiro, a sala, o sonho, o lapso, o descabido inventário de memórias próximas, bem próximas, quase um agora, ou pelo menos um agora a pouco, e um futuro longo e triste - esmaga-os, o ser, Um centavo não pagaria a extração daquele momento em que viam presentes, em uma linguagem atrapalhada pelo papel molhado de choro do romântico, a revolução sentida, os sentidos tidos, tirados, e tomados do devir. O espetáculo celeste nasce. E daí?