sábado, 9 de abril de 2011

O Luto - A Pureza

Um círculo se conclui. A vida então pode ser vista por completa como uma obra ao seu término, a partir do ponto final que se figura na última linha do livro. Então paramos, durante alguns segundos ou mais, defronte às informações sobre a editora na página findante e questionamos sobre a validade daquelas informações jogadas de forma alucinante, sem um enredo fundamental, e tentamos criar uma linha-mestra na qual explique alguns clímax do texto. Mas nada vem à mente, nada é explicado e toda aquela experiência se torna um trauma, uma ruptura brusca da realidade quando observamos o real explícito em suas conformidades naturais e principalmente sociais. Qual era seu nome? Dalva. Se quiséssemos encontrar alguma genealogia de seu nome, talvez nada achássemos, ou alguma fundamentação na falta de criatividade. Mas poderia ser muito bem um nome vinculado à maior estrela que aponta no céu, e se assim fosse seria algo tão auspicioso, tão profético, que chegaria ao ponto de encher os olhos do escritor de lágrimas. Vivia em um mundo como daqueles que observam tal estrela, pois de fato aquela luz não é uma estrela, é Vênus. A mesma alucinação de dois amantes quando se descobre Dalva no céu, era a vida desta estrela-planeta que nascera sob o julgo da indelicadeza da violência doméstica e da rusticidade do campo, e que de forma prematura abandonou sua condição e fora viver no luxo das cidades grandes sem açoite, contudo limitada pela criação dos filhos do restante do mundo e das criações de seus próprios pensamentos, na qual às vezes um sorriso poderia resumir um contexto melhor enquanto lavava as roupas de seu patrão com sabonete. Em um certo momento se via sem amores, sem expectativas, sem rumo, trancada nas paredes de um manicômio real com sua cabeça afetada pelos piolhos e pelos maltratos dos técnicos da saúde - a cidade servia os seus indivíduos de toda indecência violenta como o mundo rural. Começava a ser humilhada nas ruas pelos fantasmas que não compreendiam sua virgindade casta e lhe chamavam de puta, e nem mesmo as santas perdoavam sua falta de pecados virando seus rostos na programação católica, e haviam mensagens indiretas dos padres, e havia espionagem imperfeita dos apresentadores de televisão enquanto ela tomava banho. Nada disso existia! Aliás, ela existia e convivia com as fantasmagorias mais absurdas que a mente podia criar, a esquizofrenia era real, em uma realidade mais convincente que Vênus para os astrônomos. Chorava, e como chorava. Nunca havia feito nada de errado dentro de qualquer plano de ficção, e lutava com os normais sobre a facticidade de suas ilusões. Se via como uma prostituta hermafrodita enquanto realizava o projeto humano de doçura e bondade. Nestes últimos tempos ouvi que os pais nunca podem enterrar seus filhos. Destarte questiono sobre a possibilidade de alguém se enterrar? Nada mais cruel que uma pessoa ter passado toda sua história na solidão de suas invenções imagéticas, e sua memória estar fadada aos escritos virtuais de um escritor idiota. Não era uma heroína como se faz os políticos quando morrem, mas sim uma pessoa com as raras características de um ser humano.