sábado, 13 de setembro de 2008

O Cigarro

Toda vida ativa é passiva de erro. E quando o erro é a própria ativação da vida? Quando o erro se passa a coisa comum, ao lugar comum, para pessoas comuns? Tenho medo do que é inconsciente. Você está no meio das multidões e o que lhe resta? A verdade de todos aqueles homens e mulheres que lhe disseram. Conquanto que simular a sociedade é uma das características nossas. Fazemos espetáculos para uma sociedade de espetáculos, e também consumimos em uma sociedade de consumo. Tudo isto concentrado em alguns momentos singulares: talvez shows, talvez feriados. E isto não preocupa a gente, nós, o povo, mas preocupa a nós o amante que não se superou alguns pontos, pois é claro a imensa superioridade daqueles sem singularidade. Sobra ao poeta tentar esquecer com a pena e a bala, sobra ao cancioneiro esquecer com a viola e as lágrimas. Não lhe importa, sua neurose corroe o mundo, desfigura a realidade que neste instante fez sua. Imagine sua solidão frente a amada e suas oportunidades de conteúdo cabalístico, sonha que está sonhando e a saudade se torna surto, insensatez, grito, cigarro, vinho... cigarro. E sua imaginação é machadiana, sua tensão é mórbida e seus vícios são amargos, e ainda mais amargo quando não lhe resta nem ao menos o que beber, o que fumar, o que amar. E então o ateu reza pela crença na humanidade perdida em sua monogamia, e no fim acredita em uma paixão sem defeitos, na perfeitabilidade divina que traçou seus caminhos. As vezes quer se acalmar vendo o mar... e as ondas fazem barulhos... e o vento é um ser noturno... as palmeiras... os coqueiros... as areias; nada disso, apenas vê as montanhas, as mesmas que um dia tinha olhos românticos, mas sempre sentiu que em um amanhecer estas formações iriam lhe trair, trair seus olhos... sua sensibilidade. Ainda sobrou um cigarro, para ser fumado, para ser esquecido. Boa noite.

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