sexta-feira, 12 de setembro de 2008

A Matemática - A Estética - O Cão

Sentada, cabisbaixa e um papel em sua frente. Sua feição é forma estranha, sua fronte é fonte de quem não abandona assim, simplesmente. E se pergunta: Para que estes números? São a salvação ou o número de algum celular? Ou quem sabe os próprios celulares - e seus números - sejam a solução? Por que estou pensando em celulares? O ditador de farda parecida com uma camisa comum, uma listra no peito, um formato anatômico da sala, uns dizeres sem sentidos na paralela conversa do lado, tudo isso me chama ao exercício, de indagar o que de fato não tem realidade, de suprimir meus desejos orgânicos superados pela obrigação dura, tão dura como quem questiona a mecânica matemática, o calcular incessante. Sim, sim, eu estudo o que com razão nos sobra de imparcialidade, distante das ideologias, das sociologias, dos sociólogos, dos botânicos, perfumistas, dos socialistas - rudes e vermelhos -. Mas para que me imparcializar? É como se de alguma maneira meu sexo fosse estéril, a mesma esterilidade da mente que sente ao ver o outro passando fome - que não é também você? - que se enche de piedade na compaixão cristã, e não a produtividade dos caminhantes incertos, dos bêbados faladores que em um segundo são os maiores amantes, são os maiores amigos, na amizade aos incertos que cheira os incensos alcoólicos, que se misturam com o mundo sem a preocupação da temporária existência noturna. O que fazer com estes números, se desejo a sarjeta, a beleza, o belo e o que me traz o belo? Já se perguntou sobre a estética dos números? Alguns são retos, outros arredondados, mas todos abstratos, e a abstração - neste estágio - tem alguma metafísica da maravilhosidade? Não, não. Se me peguntasse, se se perguntasse o que é o mais bonito, responderia os cães domésticos quado fogem de casa: mesmo inconscientes se sujam, se lambuzam, na incerteza das ruas, antagonismo das espessas e seguras grades de sua casa... e correm... e latem... e cruzam... e mudam... investigam o mundo com seus enormes narizes e em algum momento se jogam de baixo de algum carro. A criança chora, o motorista ultrapassa, mas ao fatídico cão de até então pêlo limpo, ele nunca antes se sentira tão livre e o que lhe incomoda é apenas o detalhe dos orgãos que já não mais respondem. E ela, com um papel na frente à preencher de códigos científicos e pensando em cães! Que estúpida improdutividade! Poderia ela estar, neste momento, a libertar da vida os cachorros emburrecidos, os cidadãos dos hospícios, que precisam de amor, mas também precisam de bebida, de beleza, de sexo e socialismo.

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