terça-feira, 9 de agosto de 2011

O Açucar

Um dia sofremos do medo de realizarmos nossos desejos. Encaramos a vida com um olhar diferente, a seguramos pelo braço e aproximamos nossos lábios... e então bruscamente ela vem ao seu encontro, entregue, disposta e é, bem aí, que você se afasta, seu coração decresce o bombardeio anterior e você se faz a pergunta "o que estou fazendo?". Havia uma piada na qual contava de um cristão que ao chegar às portas do céu encontra deus e questiona: "o senhor realmente existe?". Caminhamos lentamente pelas ladeiras, forçamos toda nossa certeza verborrágica sobre nossos reais desejos, entretanto, como podemos desejar algo - como o destino manifesto do produto à mercadoria - se o próprio desejo é a ambição de não mais o ter? Nada é realmente fácil, nem cuidar das fezes animais de nosso enorme quintal, nem o amanhecer cedo do trabalho. Talvez o maior empecilho seja o amor, e ele é a grande muralha entre a realização e a não-realização... mas por que nos entregamos a ele? Porque não queremos realizar tais pressupostos individualmente estabelecidos nos termos mais íntimos da nossa cognição. Não desejamos realizar nem o próprio amor, por isso amamos os gatos, pois sabemos que é o sentimento mais assimétrico nas configurações mais bem formuladas do que não é o amor - não há amor sem linguagem, nem homens, nem perdas.