terça-feira, 9 de setembro de 2008

A Órbita

É assim o mundo... uma Terra perdida em sua órbita, e escrevendo virtualmente uma mulher com seu teclado emprestado, com uma vida prestável e uma solidez da multiplicidade, da simplicidade de desejos e uma vontade imensa de resgatar um tempo em que subia os morros à procura do Sol, e que bebia sem querer beber e se irritava com o frio que ela mesmo perseguia. A própria existência dela, ela não se perguntou, ela comprou algo em alguma loja, caminhou um pouco, leu alguma coisa e principalmente suspirou um suspiro longo, sem razão, mas durante um momento - um tempo revolucionário - parou de frente a janela, a tela iluminada, e quis cantar. Qual canção? Talvez aquela que relembre, e de alguma forma retorne, volte, retrospecte, traga de volta a solidão compartilhada mesmo do dia que via alguns brincarem com o tinto e o queijo, na maliciosa expressão sexual dos fantasmas que agora lhe atormenta... o atormentar do desejo de ser deus e caminhar em sua onipresença, ou talvez mesmo de ser um anjo e poder voar interminavelmente, ou quem sabe de um demônio e quebrar as leis, que são naturais, que também são divinas na sangria do libertino. Em alguns momentos se sente estranha, vontade de se comparar, de se igualar, ser uma conquistadora de mundos, se sente Alexandre, se sente César, e cavalga até o inimaginável, dentro da plural campina - sem lugar, utópica, incabível - em sua quarta dimensão sem sentido, e grita "Dependência ou Morte!" e domina solitariamente seu momento de estranhez; e logo se vê sem cavalos, sem soldados, sem idéias, e vôa até o Sol, com asas de cera, como o Ícaro das histórias, como o Kamikaze dos contos, e mesmo na consciência da queda se sente livre, sem espadas, sem escudos... se sente caindo no vácuo, se vê compartilhando o espaço com as estrelas, com os planetas e a razão. Se chama de Sputnik, responde ao chamado de Gagarin, e grita aos infinitos cantos do Universo que a Terra é azul, que as paredes são brancas, que seu cabelo é castanho e finalmente sente um amor eterno pelo seu mundo, e por quem os compõe: as árvores, os computadores e o namorado.

Nenhum comentário: