terça-feira, 11 de agosto de 2009

A Poesia - A Loucura - A Humanidade

"Brasília não me interessa, a política não me interessa, pano-de-prato não me interessa, só me interessa o Eugênio... eu amo o Eugênio". E assim vagava a voz solitária pelas ruas claras nas proximidades da praça arborizada. Enquanto andava a voz declamava a cada passo sem caminho uma das diversas faces da paixão: mesmo belo como as frentes dos manicômios, o amor também é catatônico. Sobra-nos os poemas feitos de açucar, lágrima e pouco sangue, e falta-nos a diagnose de seus efeitos patológicos. A ela, voz vosciferante ao patético realismo, nada mesmo lhe interessava, nem a política - arte surrealista para os normais -, nem o pano-de-prato - arte concretista dos lares -, e nem, o mais importante em sua natureza, àquela jovem garota, de vestimentas, cabelos, olhos e cheiros padrões, cruzando a rua, desafiando os carros, para evitar compartilhar o espaço com "aquilo" visto a frente... a imagem da loucura é o horror mais esquizofrênico da insanidade do dia-a-dia. Então do horizonte de nossa visão, ela sumiu, e pouco temos a dizer se foi tudo exatamente real: ela vendendo balas com a graciosidade de lhe agradecer a atenção, e depois andando mais um pouco e retomando as súplicas - para quem? - para nós com certeza. Não veriamos tão cedo, e com uma linguagem tão clara e racional, sem a necessidade de conteúdos e dicionários, um ser humano, antes de tudo, contudo uma poesia ambulante, vendedor de balas e altruísta o bastante de nos doar mais um sentido dos prazeres entorpecentes da paixão.

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